50 ANOS DO CAMPUS!

Colégio comemora sua existência no bairro Alto de Pinheiros


A Congregação de Santa Cruz veio para o Brasil com a intenção de criar mais um colégio católico na região de São Paulo, somente para meninos. O Colégio Santa Cruz comemorou, no dia 15 de setembro de 2007, 55 anos de vida. Nesta mesma data, o campus atual da escola completou 50 anos.

Localizado entre a Avenida Arruda Botelho e Rua Orobó, no bairro Alto de Pinheiros, nosso colégio possui cerca de 3.000 alunos. Atualmente o Santa Cruz contém, dentro de seu currículo, quatorze séries, pois agora possui o Ensino Fundamental de nove anos. No terreno de 50 mil metros quadrados, há salas de aula, jardins, prédios, um centro de informática, bibliotecas, quadras, anfiteatro e vagas para carros. Além disso, há um teatro com capacidade para mil pessoas.
Antes de o Colégio Santa Cruz ser criado, o lugar onde se situa hoje era quase deserto e sem asfalto, havia apenas algumas residências e também pastos para gado.

Como é uma região de várzea, muito próxima ao rio, mesmo depois de o colégio já ter se instalado, muitas vezes a chuva alagava as salas e, dessa maneira, as aulas eram canceladas. Quando chovia durante a aula, as professoras mandavam os alunos subirem nas mesas e de lá não saírem. Os alunos que precisavam ir ao banheiro iam, mas depois os professores desinfetavam seus pés com álcool.

Ao longo do ano, no Santa Cruz acontecem comemorações como a Festa Junina e a Festa dos Esportes. Esta última, por sua vez, também comemorou em 2007, 50 anos de existência.

A Festa Junina é realizada com o apoio dos pais e alunos para ajudar o SAN — Serviço de Auxílio aos Necessitados. Esse serviço ajuda crianças da Favela do Jaguaré, mantendo dois Núcleos Sócio Educativos, e também promove cursos profissionalizantes para os adultos. Todo dinheiro arrecadado vai para esse serviço, que pertence à Congregação de Santa Cruz.

Já a Festa dos Esportes é feita pelos alunos e organizada pelo professor de Educação Física de cada série. Ela acontece em diferentes datas, como a Festa Junina. No EF1 são dois dias de esportes, sexta-feira e sábado, em que são realizados jogos dos esportes que os alunos praticam ao longo do ano, nas aulas. Na sexta-feira a Festa acontece apenas para os alunos e no sábado é realizada com a presença dos pais, avós e outros. No EF2 e Ensino Médio, a Festa dos Esportes acontece durante a semana e os pais não costumam assistir os jogos.

No ano de 2007 foi também comemorado o aniversário de cento e setenta anos da criação da Congregação de Santa Cruz, fundada em 1837, em Le Mans, na França, cidade em que nasceu seu fundador, Padre Basílio Moreau. O mesmo foi beatificado na mesma cidade e também no mesmo dia das comemorações.

Dentro do Colégio, atualmente, há dois padres da Congregação trabalhando — Pe. Filinto e Pe. José de Almeida Prado, 76. Eles rezam missas, conversam com os alunos e até brincam com eles. O dois padres moram em uma casa ao lado do Santa Cruz e todos os dias eles estão no colágio. Leia abaixo a íntegra de uma entrevista com Pe. José, que trabalha no colégio há 52 anos, na qual nos contou toda a história do campus e do colégio.

 

Abaixo a linha do tempo do Colégio Santa Cruz


ENTREVISTA COM O PADRE JOSÉ DE ALMEIDA PRADO

Jornal do Santa: Quem fundou o Colégio Santa Cruz no Brasil?

Padre Corbeil.

Jornal do Santa: Com que objetivo ele foi fundado em São Paulo?

Para atender a uma demanda que havia na cidade por colégios católicos. Havia mais colégios para meninas do que para meninos, então para se chegar a um certo equilíbrio, fundou-se o Colégio Santa Cruz só para meninos.

Jornal do Santa: Há mais alguma escola que pertence à Congregação de Santa Cruz aqui no Brasil? Qual?

Sim, o Colégio Dom Amando, em Santarém, no Pará, e o Colégio Notre Dame, em Campinas.

Jornal do Santa: Quais são as diferenças e semelhanças entre elas?

O que há de mais concreto é que algumas vezes no ano os diretores de cada uma dessas escolas se reúnem e trocam experiências.

Entre os colégios de Campinas e São Paulo há uma semelhança estrutural e também cultural. Os dois estão em grandes terrenos, com vários pavilhões e tem a mesma classe social como público. O colégio de Santarém já é diferente por duas razões. Primeiro porque é lá no Pará e está numa cidade que não é a capital, apesar de ser relativamente grande. Do ponte de vista da arquitetura, é um colégio tradicional. Há um único prédio grande e o terreno de esportes fica em volta. Atende a classe média de lá, pois já que é um colégio pago, é também seletivo. A cultura também é diferente, é mais provinciana. Sendo assim, o jeito de se dar aula é diferente.

Mas da mesma forma, todo fim de ano os diretores se reúnem e conversam sobre os fatos ocorridos e trocam idéias para o ano seguinte.

Jornal do Santa: No início, existia, por parte da Congregação, alguma preocupação relativa ao público que iria freqüentar suas escolas?

Quando o colégio foi fundado, os colégios católicos da época estavam inseridos na classe média e na classe alta. Quando se falava de colégios católicos, se pensava em São Luiz, em São Bento, nos grandes colégios femininos da época. Então, sem que fosse fundado para, era natural, não se iria fundar um colégio, nos anos 50 em Vila Maria, por exemplo. Não havia clientela para isso.

Jornal do Santa: E nos outros países em que há colégios da Congregação? Como é o público?

Eu acho que no Canadá e na França, no tempo do Pe. Moreau, as escolas rurais eram para os camponeses, os mais pobres da época. Mas o colégio que ele abriu em Les Mans era um colégio para a classe média e média alta. Depois foi fundado um outro colégio da Congregação num subúrbio de Paris, que era um colégio de elite. Ele existe até hoje, mas não está mais nas mãos da Congregação. A Congregação prosperou muito pouco na França, pois no século 19 todos os governos eram marcadamente hostis à Igreja, eram laicos.

Jornal do Santa: E na África?

Na África e na Índia têm vários colégios da Congregação. Eu acho que não são colégios populares, pois quem pode lá ter uma educação mais prolongada também é de classe econômica mais abastada. Porém, é claro que a classe média na África é diferente da daqui. Eles têm escolas de todos os tipos. As escolas primárias se orientam mais para as pessoas simples e quanto mais elevado o nível acadêmico, mais elitista a escola se torna.

Jornal do Santa: No início havia quantas séries aqui no colégio?

Bem no começo, em 1952, havia duas séries do Ensino Fundamental 2. Cada série continha uma classe de mais ou menos trinta e cinco alunos. Ano a ano, foi sendo criada uma série acima e o número de classes também foi aumentando.

Jornal do Santa: Onde era o lugar no qual o colégio funcionava antes? Por que mudou para cá?

Ficava na Avenida Higienópolis, 890, em frente ao Colégio Sion. O colégio funcionava em uma casa de família e depois o lugar ficou pequeno demais. Hoje, no mesmo quarteirão funciona o Colégio Rio Branco.

Jornal do Santa: O que há atualmente no prédio onde funcionava o colégio no início?

É a sede da Cúria Metropolitana de São Paulo, que é, digamos, a central da Arquidiocese de São Paulo.

Jornal do Santa: No início quantos padres trabalhavam no colégio? E hoje, quantos há? Quem são?

No início havia cinco ou seis padres trabalhando. Quando mudamos para cá havia mais de dez. Morávamos no prédio onde funciona hoje o Curso de Educação Infantil, oito padres no andar de cima e dois no piso térreo. Os padres eram: Gil, Corbeil, Cláudio, Paulo, Jorge, Ivon, José, Fábio, Rolando, André, Maurício, Léo e Lourenço.

Jornal do Santa: Conte como foi sua trajetória profissional no colégio?

Eu fui professor de Português, Latim, Religião e Diretor do Curso Ginasial (atual Ensino Fundamental 2). Minha ocupação atual é celebrar missas na capela de São Francisco, com presença no colégio.

Jornal do Santa: Quais são, na sua opinião, as diferenças que existem entre os alunos de hoje e os de antes no colégio?

É a mesma “massa”, mas o mundo mudou. A cidade não é mais a mesma, cresceu muito, agora existem os equipamentos eletrônicos (televisão, computador), as famílias eram mais numerosas, havia uma prática religiosa maior... Hoje as pessoas são interessadas em outras coisas, como por exemplo, computador, pois naquela época nem existia isso.

Jornal do Santa: Como eram os uniformes? O senhor acha que ainda deveriam ser obrigatórios?

O uso de uniformes no colégio nunca foi obrigatório, o colégio já tinha um toquezinho mais moderno. Havia as cores do colégio e o uniforme era apenas um “traje esportivo” para as aulas de Educação Física, como é até hoje. No colégio das meninas tinha uniforme, mas no dos rapazes era mais livre. Atualmente, na Educação Infantil (Pré 1 e 2) o uso do uniforme é obrigatório todos os dias.

Jornal do Santa: Fale um pouco sobre o que levou o colégio a se mudar para este bairro.

Os padres sabiam que o colégio iria se expandir e não caberia mais naquele local que era uma casa de família, no qual o quarto virou sala, o jardim o recreio e os banheiros foram ampliados e divididos em masculino e feminino. O colégio até chegou a pedir um empréstimo de sala para o Colégio Sion, que ficava à sua frente. Depois de um ano, ganhou o terreno do campus atual de uma empresa canadense, chamada Brazilian ......, ligada à Light. Como os padres eram canadenses, ganharam esse terreno.

Jornal do Santa: Fale um pouco sobre as mudanças que o colégio sofreu em seus cursos.

Em primeiro lugar houve uma mudança quantitativa. Quando nos mudamos para cá havia no máximo 300 alunos, hoje em dia há por volta de 3.000. Havia apenas meninos, depois se tornou misto. No início havia apenas o Ginásio, depois foi criado o Curso Colegial, que é o Ensino Médio de hoje, e depois o Curso Primário, que é o atual Fundamental 1. Há poucos anos foi criado o Curso Supletivo e, em seguida, a Educação Infantil. No começo só havia uma classe de cada série, hoje em dia há algumas séries que possuem seis classes.

Jornal do Santa: O que levou o colégio admitir meninas?

Foi a mudança cultural, até os anos 70 todos os colégios católicos eram ou só para meninos, ou só para meninas. A partir da década de 70, os colégios pararam de ter a “preferência” e começaram a admitir a mistura dos dois sexos. Foi a evolução dos tempos que levou a isso.

Jornal do Santa: O que o senhor tem para falar sobre o nosso Campus?
Este campus “foi a menina dos olhos” do nosso fundador, Pe. Corbeil. Ele sempre quis um colégio amplo, com vários pavilhões, muito verde, quadras, laboratórios etc.

O campus foi crescendo aos poucos, à medida que o número de alunos aumentava e os cursos se multiplicavam. Conforme os cursos foram sendo criados, o colégio foi se transformando aos poucos. No início o colégio não possuía muro, não havia violência, apesar de haver uma favela muito próxima ao colégio, na Av. Arruda Botelho. O SAN surgiu para atender as necessidades dessa favela. Os alunos do colégio faziam a alfabetização das crianças de lá, e foi um desses o motivo de criação do Curso Supletivo.

Havia um vigilante noturno que dormia a maior parte do tempo. Hoje temos dezenas deles.

 

 


 

FONTES: Padre José, Revista dos cinqüenta anos do Colégio.

Camila Levy e Francisca Andrade - 4ª D.