Gênero: Carta argumentativa
Tema: Carta do leitor
Apresentação da carta do leitor
A imprensa escrita costuma manter seção de cartas do leitor, cuja finalidade é abrir espaço à participação dos leitores, que se manisfestam livremente sobre a qualidade das matérias publicadas, seja para elogiar, seja para criticar, sugerir ou fazer pedidos.
Leia, a seguir, um artigo de Eliane Catanhêde, publicado no jornal Folha de S. Paulo de 29 de junho, e excertos de três cartas enviadas por leitores.
Um cara desses
Quando os filhos são pequenos, chutam a canela da empregada, e os pais acham "natural", fingem que não vêem. Já maiores um pouco, comem o que querem, na hora em que querem, não falam nem bom-dia para o porteiro e desrespeitam a professora. Na adolescência, vão para o colégio mais caro, para o judô, para a natação, para o inglês e gastam o resto do tempo na praia e na internet. Resolvido.
Dos pais, ouvem sempre a mesma ladainha: o governo não presta, os políticos são todos ladrões, o mundo está cheio de vagabundos e vagabundas. "E quero os meus direitos!" Recolher o INSS da empregada, que é bom, não precisa.
É assim que os filhos, já adultos, saudáveis, em universidades, são capazes de jogar álcool e fósforo aceso num índio, pensando que era "só um mendigo", ou de espancar cruel e covardemente uma moça num ponto de ônibus, achando que era "só uma prostituta".
A perplexidade dos pais não é com a monstruosidade, mas com o fato de que seu anjinho está sujeito – em tese – às leis e às prisões como qualquer pessoa: "Prender, botar preso junto com outros bandidos? Essas pessoas que têm estudo, que têm caráter, junto com uns caras desses?", indignou-se Ludovico Ramalho Bruno, pai de Rubens, 19.
Dá para apostar que ele votou contra o desarmamento, quer (no mínimo) "descer o pau em tudo quanto é bandido" e defende a redução da maioridade penal. Cadeia não é para o filho, que tem estudo e dinheiro, um futuro pela frente. É para o garoto do morro, pobre e magricela, que conseguir escapar dos tiroteios e roubar o tênis do filho.
Isso se resolve com o Estado sendo Estado, com justiça, humanidade e educação – não só com ensino para todos e professores mais bem treinados e mais bem pagos, mas também com a elementar compreensão de que "o problema", e os réus, não são os pobres. Ao contrário, eles são as grandes vítimas.
Tapa na cara
"Um primor o artigo de Eliane Cantanhêde de ontem. O pior é que muitos desses adolescentes de classe média, que ela descreve tão bem, quando não chegam ao extremo de espancar ou pôr fogo em pessoas em pontos de ônibus vão exercer cargos de comando em empregos arranjados. E alguns vão ser os gestores da sociedade."
SÉRGIO GERSOSIMO (Carapicuíba, SP)
"Concordo com Eliane Cantanhêde quando ela afirma, em sua coluna de 29/6, que o problema pode ser resolvido com o Estado sendo Estado, com justiça, com humanidade, com educação e com a compreensão de que o problema não são os pobres, pois eles são as vítimas neste rico país. O que me indignou foi a aposta que ela fez, argumentando que o senhor Ludovico Ramalho Bruno com certeza votou contra o desarmamento. A opinião dela sobre o referendo do desarmamento é apenas a opinião dela, e não uma verdade a ser seguida. Eu votei contra o desarmamento, sou contra a redução da maioridade penal e não acho que bandidos devam apanhar, mas sim ser reeducados para que possam voltar ao seio da sociedade."
RICARDO REIS (Indaiatuba, SP)
"Tenho 60 anos, sou professor do ensino médio há cerca de quatro décadas e há muito tempo leio o que se escreve em nossos jornais. Mas o que Eliane Cantanhêde escreveu na sexta-feira passada sobre os papais dos filhinhos que "têm estudo e caráter" (!), porém agridem empregadas pensando "serem apenas prostitutas", foi de uma precisão, de uma objetividade e de uma contundência que eu nunca havia lido em nenhum jornal deste país. Parabéns a Eliane e à Folha."
IVAN G. ANJOS (São Paulo, SP)
As cartas lidas caracterizam-se como um gênero textual denominado carta argumentativa do leitor, na medida em que têm uma clara intenção persuasiva. Os leitores de um jornal ou revista normalmente se manifestam por carta com a finalidade de:
- elogiar ou criticar a qualidade de uma matéria publicada (extensão, pesquisa, profundidades, etc.) ou a forma (inovadora, democrática, conservadora, etc.) como o autor ou o veículo conduziu o assunto;
- manifestar apoio ou discórdia em relação às idéias de um texto publicado;
- acrescentar informações às já contidas no texto publicado, aprofundando o debate.
A carta do leitor apresenta um formato semelhante ao da carta pessoal. Apesar disso, é comum a imprensa publicar apenas o corpo da carta ou parte dela (como no caso das cartas lidas), por falta de espaço.
Características da carta argumentativa do leitor
- expressa a opinião do leitor sobre textos publicados em jornal ou revista;
- tem intencionalidade persuasiva;
- tem estrutura semelhante à da carta pessoal: data, vocativo, corpo do texto (assunto), expressão cordial de despedida e assinatura.
- linguagem de acordo com o perfil do autor, da revista ou jornal a que se destina, predominando o padrão culto formal;
- menor ou maior pessoalidade, de acordo com a intenção do autor.
(Adaptado de: CEREJA, William Roberto e MAGALHÃES, Thereza Cochar. Texto e interação: uma proposta de produção textual a partir de gêneros e projetos. São Paulo: Atual, 2000.)
Produzindo a carta argumentativa do leitor
Você vai produzir uma carta argumentativa do leitor baseada num artigo opinativo recente que dialogue com um conteúdo em estudo nos diversos componentes curriculares da sua série (Matemática, Língua Portuguesa, História, Física, Biologia, Química, Geografia, Filosofia, etc.).
Sua pesquisa deve limitar-se aos jornais e revistas publicados no 2º semestre de 2007 (a partir de 1º de julho): selecione o artigo e cole-o em folha à parte. Nessa mesma folha, crie um parágrafo explicitando a relação do texto escolhido com o conteúdo curricular em estudo.
Se for uma indicação do professor da matéria, convidado a colaborar com a sua própria seleção de artigos pertinentes, o texto escolhido pode abranger outras datas e outros gêneros textuais, desde que tenha caráter opinativo/argumentativo.
Como leitor crítico do artigo e munido dos elementos das discussões das aulas, redija uma carta argumentativa dirigida ao autor do texto que traduza o seu ponto de vista em relação ao tema abordado.
Em sua carta, lembre-se de se apresentar e de empregar as características típicas do gênero.