Felicidade

Ela levantou os olhos de seu livro para olhar-me, ou melhor, deslumbrar-me com seus olhos verdes. Seus olhos atentos transmitiam pura serenidade e tranqüilidade. Aproximei-me dela até ficar a uma distância razoável para uma conversa. Era como se eu já a conhecesse desde antes de minha existência. Como se soubesse que me encontraria com ela um dia. 

Levantei minha mão para cumprimentá-la, embora quisesse estar mais perto. Trocamos um aperto de mão e não hesitei em apresentar-me. Quando ela não o fez, logo fiquei alarmado. Qual era o problema da bela moça à minha frente? Quando perguntei, ela disse-me:

- Sinto como se você já fosse um amigo próximo de mim, quando na verdade, nunca, em minha existência inteira, te vi. Estou tendo déjà vus desde que olhei para você pela primeira vez.

Estava cansado das preliminares. É claro que eu já a conhecia, só não me lembro – e nunca me lembraria - quando. Convidei-a para um chá comigo e logo dispensei meus pais para fazerem compras em uma lojinha próxima de souvenirs.

Só fiquei sabendo que seu nome era Sylvia quando perguntei-lhe de seus irmãos, que moravam cada um em um canto do mundo. Eram cinco. Em menos de duas horas Sylvia já sabia tudo sobre minha vida, e eu da dela. Ela também estava morando no Conjunto Nacional há algum tempo, e perguntei-me porque nunca a vira antes em algum canto. Seus pais residiam no interior também, mas o da Inglaterra. E ela era a única da família inteira que morava em São Paulo. Quando perguntei, ela disse-me que ficara encantada pela cidade quando ela e seus pais vieram passar as férias aqui, e quando acabou a escola veio direto para cá, nunca se arrependendo da decisão.

E assim nosso relacionamento continuou. Meus pais, que só foram para passar uma noite comigo, despediram-se pela manhã, felizes por eu ter encontrado alguém que me interessasse. Como se eu já não estivesse suficientemente apaixonado por Silvia. Começamos a namorar, embora ela parecesse ser muito mais do que somente isso para mim.

O tempo passou, nós ficávamos cada dia mais próximos um do outro, até que eu, impacientemente, pedi à mão de Sylvia em casamento. Ela aceitou sem hesitar.

Com a decadência do Conjunto Nacional, o que aconteceu pouco tempo depois que começamos a morar juntos, tivemos de nos mudar. Acabamos indo para a Inglaterra morar em uma grande casa perto da dos simpáticos pais de Sylvia. A essa altura, estáva-mos duas filhas. E esse foi o período mais feliz de minha vida. Amava demais as três meninas de minha vida. Elas ocupavam a maior parte do meu dia. Quando não estava trabalhando no setor administrativo da grande empresa da Inglaterra, estava me distraindo com elas. A maior distração existente, por falar nisso.

Ninguém nunca pode ter amado alguém tão arduamente como eu amava aquelas três meninas de minha vida.

Começo

Conjunto Nacional