Saudades

Pensei minhas opções por um momento. A mulher já estava morta. Eu não poderia fazer nada para salvá-la. Ao amanhecer, provavelmente encontrariam-na lá. Os investigadores questionariam todos os moradores do conjunto e eu teria que estar aqui, caso contrário levantaria mais suspeitas.

Fui lentamente andando para meu apartamento. A cada passo que dava sentia-me mais pesado, tornando impossível prosseguir quando cheguei à porta do apartamento. Desabei no chão de concreto antes mesmo de entrar. A raiva que sentia pelo assassino daquela mulher em um espiral perigosamente crescente. Foi àquele peculiar estado de espírito que me desproveu do meu lado racional, alienando-me. Irrompi em meu apartamento enxergando apenas vermelho. Fui direto ao meu armário até encontrar o que procurava: minha pequena, mas potente arma preta, intocada há alguns anos. Desci silenciosamente a escada, passei pelo cadáver da mulher e girei a fechadura do apartamento de seu namorado. Estava destrancada. Encontrei o assassino dormindo no sofá. Levantei minha arma, mirando em sua cabeça. Atirei. Uma quantidade imensa de sangue começou a jorrar do local atingido, uma cachoeira vermelha. Fiquei irracionalmente feliz. Voltei ao meu apartamento, devolvi a arma no lugar e dormi tranquilamente.

Percebi, enquanto afundava na inconsciência, que a raiva que moveu-me para assassinar meu vizinho não fora por causa de sua namorada, e sim por minha falecida mulher. Eu apenas não podia ter certeza se ela fora descontada na pessoa certa. Não liguei. Sentia-me aliviado.

Começo

Conjunto Nacional