Seus olhos verdes não saíam de minha cabeça, olhos verde água, a imensidão do mar no qual lentamente eu naufragava. Estaria ele também perdido nos meus olhos profundos e misteriosos como o ébano? Só pode ser amor a primeira vista; não é algo normal esquecer Sam, e subitamente ficar a deriva numa obcessão por um homem alheio. Ele me olha repetitivamente, arrisca um sorriso maroto e retorna a repetir o gesto dos lábios finos em busca de uma reação minha. Não consigo resistir, o monólogo entre minha lucidez e o animal esquecido, que agora ruge em meu peito, me deixa cada vez mais impulsiva. Ele se aproxima, o animal começa a rosnar, querer morder, e de repente me vejo perdida em um beijo paradisíaco. Tendo cedido à tentação, abandonei a luz guiadora, a razão, o "futuro promissor", abandonei as certezas. Adeus Sam. Como muitas coincidências desagradáveis na vida, agora me encontrava no centro de uma: Sam me olhava boquiaberto. Lentamente, o animal foi adormecendo dentro de mim, abatendo-se. Tudo cessou, o beijo, a paixão esverdeada, Sam. Minha vida parou.
Como sou idiota, cometi o grande erro humano: largar o gradual, o amor que conquistei lentamente, valorizar os mínimos momentos, em sua maioria sem valor. Nesse instante, o animal em mim, sem esplendor, pesa mais do que nunca.