IV Congresso do Colégio Santa Cruz jan/17

O desenvolvimento


O encontro de professores do Santa Cruz acontece em um momento de crise política, com contínua problematização relativamente aos partidos, do parlamento e de outras instituições da democracia. Nesse clima, o tema da “ideologia” ou do posicionamento político do professor é colocado em pauta por vários atores. Isso repercute no trabalho das escolas e traz novos conteúdos para as relações entre professor e aluno e entre escola e pais.

Nos últimos anos, apareceram iniciativas no campo normativo, duas delas com grande repercussão pública. O projeto de Lei Federal 1.141, de 2015, de autoria do Deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), buscava tipificar e punir o crime de “assédio ideológico”. O projeto de Lei Federal n. 867, de 2015, do Deputado Izalci Lucas Ferreira (PSDB-DF) propõe incorporar à LDB – e às leis estaduais e municpais - o ideário e as pautas do Programa Escola Sem Partido.

Essas iniciativas têm traços em comum. Elegem os professores como agentes que podem colocar em risco a correta formação política e moral da juventude, por meio da imposição de julgamentos e padrões de pensamento político identificados como “ideológicos”, “de esquerda”, “comunistas” etc. Elas têm um viés nítido de censura e de criminalização da atividade pedagógica que não esteja em acordo estrito com as orientações parentais.

Ao mesmo tempo, no âmbito regional e local, vem-se tentando retirar certos temas da pauta das políticas e das práticas escolares, como as “questões de gênero”, sexualidade e outros.

Esses temas têm envolvido os estudantes, como se vê nas cenas do documentário "Lute como uma menina!":

A imprensa passa a veicular matérias, opinativas em grande medida, em que aparece uma espécie de refrão: “a educação brasileira é ideológica”. A crítica à educação brasileira pela via da ideologia generalizou-se. Os professores são “esquerdistas”, querem fazer a cabeça dos estudantes, preferem conteúdos ideológicos” ou “de esquerda” etc.

Esse discurso pode ser visto no vídeo de Luiz Felipe Pondé:

Essas iniciativas têm em comum a perspectiva de imputar o professor, invalidando e não reconhecendo sua ação junto aos estudantes. Esse intento de invalidação tem como consequência acirrar o clima de animosidade e de polarização presente na sociedade brasileira. O fato de alguns dos projetos não se converterem em leis, por problemas técnicos ou políticos, não alivia muito o resultado: a ameaça produz a sua eficácia pela simples enunciação.

Ao mesmo tempo, emergem nas escolas e fora delas (e são ampliadas por novos hábitos de comunicação em “redes sociais”), ações coletivas em novos registros e com novo molde organizativo, colocando em pauta novos temas (polêmicos) e indicando novos focos de conflitualidade. Feminismo, novas configurações de gênero e sexualidade, discriminações, hábitos adolescentes têm alimentado ações estudantis e juvenis, dentro e fora da escola. Os recentes mvimentos de ocupação de escolas servem como exemplo, incidindo mais diretamente na política pública.

As pautas postas por esses grupos impactam o clima da escola. O acolhimento dessas iniciativas por parte da escola pode ser objeto de censura de temas curriculares e punição de seus professores.

Em escolas privadas, os pais tendem a se colocar mais como “protagonistas”, mas algumas vezes essa saudável motivação de participar mais do mundo escolar de seus filhos se projeta em formas de vigilância, crítica infundada e interferência