Poiesis

Convite à Poiesis
A construção que acontece na nossa cabeça frequentemente é mais significativa quando acompanhada de uma experiência “no mundo” – um castelo de areia, um bolo, uma casa feita de Lego, um programa de computador, um poema ou até a teoria do universo. Parte do que quero dizer com “no mundo” é que o produto do conhecimento possa ser mostrado, discutido, examinado, verificado [...] Assim, as construções “no mundo” têm especial importância, como suporte para as construções na nossa cabeça, apontando dessa forma para a necessidade de uma metodologia que não seja exclusivamente voltada para o mental.
PAPERT, S. (1980). Mindstorms: children, computers, and powerful ideas. New York: Basic Books.
É constante o fluxo dos teóricos da educação preconizando métodos ativos de ensino, centrados no aluno, conectando-os a problemas reais. Trabalhos de Dewey, Montessori, Freinet, Piaget e Freire poderiam ser citados.
O que mobiliza esse movimento já clássico das práticas escolares, que pendula do cognitivismo mais puro à pedagogia de projetos, do behaviorismo à aprendizagem significativa? Por que voltamos “ao fazer”, ciclicamente? Será que nos damos conta dos limites de um trabalho puramente racional, mental, buscamos sua antítese e, mergulhados nesse campo, temos recaídas e voltamos ao reinado dos conteúdos conceituais?
Qual o poder e significado do fazer? Quais os perigos a que expomos nossa prática pedagógica nessa empreitada? Quais os ganhos?
Seymour Papert, o engenheiro norte-americano, piagetiano convicto, criador da primeira linguagem de programação feita para crianças, nos indica algo na epígrafe supracitada.
Desloca-se o fazer do engenho puramente físico para um engenho humano de qualquer ordem. Isso nos inclui a todos na reflexão. Filósofos e físicos. Matemáticos e artistas. Biólogos e linguistas.
Poiesis, , inspiração grega do fazer criativo, nos convida a refletir sobre construções reais e construções mentais, e as possibilidades que se abrem porque ambas podem ser mostradas, discutidas, examinadas, provadas e admiradas.
Como isso se relaciona com a discussão do currículo?
Estudiosos da pedagogia crítica, como Freire e Illich, criticaram a descontextualização do currículo e introduziram a ideia da construção de um currículo culturalmente significativo, no qual os designers se inspirariam na cultura local, criando temas geradores com os membros destas culturas. Freire também defendia educação como forma de “empoderamento” e argumentava que aprendizes deveriam passar da consciência do real para a consciência do possível, quando percebessem novas alternativas, viáveis em situações limitantes (Freire, 1974). Portanto, os projetos dos alunos devem estar profundamente conectados com problemas significativos, sejam pessoais ou coletivos; desenhar soluções para esses problemas torna-se, ao mesmo tempo, educativo e empoderante (Blikstein, 2008; Cavallo, 2000).
E qual o peso das tecnologias na discussão?
A Humanidade caminhou muito longe com seus saberes e suas técnicas; estamos muito acostumados a ser consumidores de novas tecnologias, mas nos esquecemos de ser os “fazedores”- aqueles que exploram o mundo atendendo à sua necessidade de conhecer e descobrir. O avanço tecnológico e industrial do último século nos impactou, mas também nos alienou em relação à responsabilidade na manutenção de vida e na preservação no planeta. A tecnologia precisa ser “descontruída” e usada com mais consciência e crítica.
Por que esse eixo temático é relevante e foi escolhido para a discussão do Colégio Santa Cruz em 2017?
Porque queremos falar sobre o protagonismo do aluno, sobre as relações espaço-tempo, sobre o erro, sobre o bom problema, sobre aprender com pares e trabalhar em grupo.