IV Congresso do Colégio Santa Cruz jan/17

Experiência


A proposta para o grupo temático sobre Experiência partiu de dois conceitos de Walter Benjamin.

O primeiro deles enuncia que conhecimento é a experiência reconduzida pela linguagem, matéria de memória e compartilhamento. A modernidade, entretanto, testemunha a degradação dessa experiência, outrora concebida como sabedoria que se narra e se compartilha. As formas narrativas são substituídas por códigos e gêneros de substância volátil, afeitos ao isolamento e à fragmentação, os quais expressam a rapidez e a superposição de estímulos avessos à experiência estética e à permanência da memória.

“Um acontecimento vivido é finito [...], ao passo que o acontecimento lembrado é sem limites, porque é apenas uma chave para tudo o que veio antes e depois” (BENJAMIN, Experiência e pobreza).

A segunda ideia evoca a perenidade da experiência no universo da infância. Sem restringir essa categoria a uma faixa etária, Benjamin considera as formas abertas da percepção e da linguagem da criança como um referente para a revivificação da experiência degradada na modernidade.

“Tarefa da infância: introduzir o novo mundo no espaço simbólico. Pois a criança pode fazer aquilo de que o adulto é completamente incapaz: reconhecer o novo” (Id, Libro de los pasajes).

“Não são as coisas que saltam das páginas em direção à criança que as vai imaginando — a própria criança penetra nas coisas durante o contemplar, como a nuvem que se impregna do esplendor colorido desse mundo pictórico. [..] Ao elaborar histórias, crianças são cenógrafas que não se deixam censurar pelo ‘sentido” (Id, Narrativas radiofônicas).

A releitura que Jorge Larrosa faz de Benjamin constitui um instrumento para a atualização desses conceitos no âmbito das reflexões sobre a pedagogia contemporânea.

“A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. [...]Nunca se passaram tantas coisas, mas a experiência é cada vez mais rara. Em primeiro lugar pelo excesso de informação. A informação [...] não deixa lugar para a experiência. [...] O acontecimento nos é dado na forma de choque, do estímulo, da sensação pura, na forma da vivência instantânea, pontual e fragmentada. Em segundo lugar, a experiência é cada vez mais rara por excesso de opinião. O sujeito moderno é um sujeito informado que, além disso, opina” (LARROSA, Notas sobre a experiência e o saber de experiência).

Aliando as vozes desses pensadores, propusemos a discussão sobre os espaços e os tempos escolares viáveis ao conhecimento engendrado na experiência e, consequentemente, à expressão das subjetividades. Por meio de relatos dos professores sobre suas práticas e outras metodologias que restauram esse valor, o grupo pode legitimar seu trabalho atual, bem como reinventar e propor alternativas de conciliação entre linguagem, conhecimento e vida em nossas salas de aula.