IV Congresso do Colégio Santa Cruz jan/17

Núcleo Comum em diálogo com eletivas, optativas e projetos interdisciplinares


O grupo considera saudável a criação e a implementação de disciplinas dinâmicas, instigantes e de fronteiras mais flexíveis, como as optativas e as eletivas, mas enfatiza que, hierarquicamente, as disciplinas tradicionais do núcleo comum se sobrepõem a essas. Para alguns do grupo, isso é uma questão, e seria necessário reconfigurar essa hierarquia. Eles consideram que é importante que os professores das disciplinas optativas/eletivas se posicionem institucionalmente para que o espaço que esses cursos ocupam no colégio seja mais considerado. Outros, entretanto, lembram que o que se promove no âmbito de cada uma das disciplinas também é diversificado e instigante, e é necessária maior dedicação às metodologias, às possibilidades de interação e à flexibilização de conteúdos do núcleo comum, sem abolir as fronteiras disciplinares. Chamam atenção para o risco de se concentrar todo esforço de arejamento e ruptura nessa dimensão mais periférica (eletivas/optativas) do currículo e continuar reafirmando o modelo tradicional nas disciplinas mais centrais, do núcleo comum.

Alguns relatam perceber uma dicotomia entre essas disciplinas que pode ser expressa como desejo x obrigação. Nas optativas, aparece o desejo puro do professor, menos sobrecarregado de responsabilizações e compromissos. As turmas com menos alunos permitem também melhor leitura dos grupos e maior conhecimento dos alunos. Nas disciplinas do núcleo comum, por sua vez, esbarra-se o tempo todo com o excesso. Na tentativa de abranger tudo e não deixar nenhum tema relevante de lado, acaba-se correndo o risco da superficialidade e da falta de envolvimento e desejo. Os grupos maiores e a necessidade de que as diferentes classes avancem simultaneamente no planejamento fazem com que a avaliação e a percepção sobre as turmas sejam menos levadas em conta no andamento dos cursos.

Provocado a se debruçar mais cuidadosamente sobre de onde vem a pressão em relação à extensão dos conteúdos a serem trabalhados, o grupo identifica pressões internas subjetivas dos professores, que encontram muita dificuldade em decidir e escolher aquilo de que podem abrir mão; pressões sociais externas (como as famílias, os professores das séries seguintes e o vestibular, por exemplo), a tradição/institucionalização dos programas de cursos e a falta de espaços de construção coletiva dos planejamentos, que envolvam não apenas coordenação e direção, mas também os professores. Nesse sentido, as escolhas institucionais e o campo de negociação que se forma a partir delas também são identificados como fonte de pressão. Percebe-se a necessidade de um planejamento institucional indicativo, que defina os conteúdos mínimos a serem trabalhados, mas também a possibilidade de que esse planejamento seja mais flexível e construído de forma mais coletiva, para que escolhas e decisões sejam partilhadas. Mais uma vez, os grupos de verticalidade foram apontados como um grande avanço, no sentido de permitir maior interação entre os cursos, percepção da escola como um grande coletivo e possibilidade de tomada de decisões mais coletiva, o que, aos poucos, pode levar a algum desafogamento nos programas de cada série.

Mais especificamente sobre o núcleo comum, diversos professores indicam que o trabalho com os projetos interdisciplinares precisa ganhar força: o conteúdo e os tempos das disciplinas devem ir gradualmente sendo reorganizados em direção a eles. Parecem ver que esse é um caminho para o rompimento da dicotomia desejo x responsabilidade. Entretanto, parece ser consenso no grupo que esses projetos demandam muito tempo de planejamento coletivo, e, quando são executados com rapidez, sem a devida reflexão e maturação da equipe, tornam- se superficiais. A questão do tempo é sempre mencionada como vital: não só há falta de tempo para criação coletiva e planejamento dos projetos, mas também há falta e engessamento do tempo para o trabalho com os alunos.